Madrugada – Riselda Morais

Foto: Centro de SP - Riselda Morais

É madrugada

de uma noite muito gelada

Estou trancada

em meus pensamentos

Penso em “tudo”…

Penso no “nada”…

 

Ouço passos…

 

Do casal apaixonado,

que aquecido pelo amor

curte o vento gelado,

da fria noite de inverno,

nas ruas desta cidade,

sorrindo descontraídos,

percebo não são vividos,

mas curtem sua boa idade.

 

Fazendo parte do tudo

Eles sequer perceberam,

que passaram por pessoas

que com o frio se encolheram,

embaixo de papelões,

sem lençóis e sem colchões,

os seus filhos protegeram,

embaixo de uma sacada,

onde a rua é sua morada

destino que não escolheram.

 

Na miséria estavam unidos,

sem perder a esperança,

de recuperarem a vida,

mas o lar era uma lembrança,

de um passado distante,

que não foi bom o bastante,

para mantê-los protegidos

acolhidos e aquecidos!

 

Foi ai que percebi

Que nada do que vivi

Serviu-me como lição

O que uns não querem ver

machuca o meu coração

 

Se a miséria é invisível

Pode ser observada

A vida é imprevisível

Mas pode ser melhorada

Um olhar com atenção

E um pouco de boa vontade

Pode ser a solução

Para os pobres da cidade!

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