Vinte e sete milhões de mulheres brasileiras não têm acesso ao saneamento básico
Texto e foto: Riselda Morais
Segundo o estudo “O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira” realizado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a BRK Ambiental, uma em cada quatro mulheres brasileiras, o equivalente a 25% não tem acesso a água tratada, coleta e tratamento de esgotos.
São 27 milhões de mulheres que não têm acesso adequado à infraestrutura sanitária e o saneamento é variável determinante em saúde, educação, renda e bem-estar.
O estudo mostra que a falta de saneamento básico tem impactos negativos para toda a sociedade, e o problema é um dos fatores que reforçam a desigualdade de gênero no Brasil. A universalização dos serviços tiraria imediatamente 630 mil mulheres da pobreza, sendo a maior parte delas negras e jovens.
O economista Fernando Garcia de Freitas, responsável pela pesquisa, lembra que quando há falta de água em casa ou quando alguém da família adoece em decorrência da falta de saneamento, em geral a rotina das mulheres é mais afetada – o impacto desses problemas no tempo produtivo delas é 10% maior que o dos homens. “Temos um retrato evidente de como a falta de água e esgoto impacta a criança, a jovem, a trabalhadora, mãe e a idosa, impedindo a melhoria de vida e aprofundando as desigualdades”.
Para o Infectologista Dr. Artur Timerman um diagnóstico específico sobre os impactos à saúde da família é importante para compreender os problemas que a ausência do saneamento básico provoca na sociedade. “A situação do saneamento básico no Brasil é preocupante e este estudo mostra que infelizmente estamos deixando gerações, sobretudo de mulheres brasileiras, às margens devido a um problema que não corrigimos ainda. A mulher é peça importante na sociedade e na construção de uma família, é ela na maioria das vezes quem tem a preocupação com a saúde familiar. Sem oferecer água tratada e esgotamento sanitário adequado a todos, estamos condenando o nosso futuro”, afirma.
O estudo aponta também que, as meninas que não têm acesso ao banheiro tem menor rendimento na escola com até 46 pontos a menos na média do ENEM quando comparadas à média dos estudantes que tem acesso ao saneamento básico. As meninas são prejudicadas também no ingresso ao mercado de trabalho, uma vez que o acesso à água tratada, coleta e tratamento de esgoto poderia reduzir em até 10% o atraso escolar da estudante.
Além de prejudicar no rendimento escolar e no mercado de trabalho, o estudo mostra ainda que a falta de saneamento básico afeta principalmente a saúde dessas meninas e mulheres, é uma das principais causas de incidência de doenças diarreicas, que levam as mulheres a se afastarem 3,5 dias por ano, em média, de suas atividades rotineiras. O afastamento por esses problemas de saúde afeta principalmente o tempo destinado ao descanso, lazer e atividades pessoais.
Meninas de até 14 anos são as maiores vítimas desse quadro, com índice de afastamento por diarreia 76% maior que a média em outras idades (132,5 casos de afastamento por mil mulheres contra 76). Já no caso da mortalidade, o déficit de saneamento é mais perigoso para a mulher idosa, que corresponderam a 73,7% das mortes entre as mulheres sem acesso ao saneamento.
O estudo aponta que no caso da renda, o acesso ao saneamento traria ainda um acréscimo médio de R$ 321,03 ao ano para cada uma dessas brasileiras, o que representaria um ganho total à economia do país de mais de R$ 12 bilhões ao ano.
Os impactos negativos da falta de saneamento básico na vida de 25% das mulheres brasileiras deve-se ao fato do país não estar investindo o suficiente na infraestrutura sanitária e o saneamento conforme prevê o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), lançado em 2013 pelo Governo Federal, para alcançar a universalização do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto até 2033. Para cumprir a meta o Brasil teria que investir cerca de R$ 20 bilhões por ano, praticamente o dobro do que investe hoje.
Fonte: Instituto Trata Brasil