Especialista alerta para os transtornos alimentares nos adolescentes na pandemia

transtornos alimentares

Reprodução Wik How

Segundo a OMS, aproximadamente 10% dos jovens sofrem com esses transtornos alimentares

   Em tempos de pandemia, para o adolescente, passar um período prolongado dentro de casa traz consequências, faz com que sintam mais ansiedade, estresse, desânimo e até mesmo nenhuma vontade de praticar atividade física. A nutricionista Camila Alves, do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS (CRN-3), alerta para o desenvolvimento de transtornos alimentares nos jovens, que já atinge 10% desse público.

“O comportamento alimentar se define como respostas comportamentais ou sequenciais associadas ao ato de alimentar-se, maneira ou modo de se alimentar, sendo influenciado por condições sociais, ambientais e culturais. Infelizmente, isso pode impactar no desenvolvimento de doenças como anorexia e bulimia em idades cada vez mais precoces”, pontua Camila.

   De acordo dados divulgados pelo Organização Mundial de Saúde (OMS), 4,7% da população brasileira sofre de transtornos alimentares, que são doenças psiquiátricas caracterizadas por perturbações constantes na alimentação. Entre os mais conhecidos estão a anorexia, a bulimia e o transtorno da compulsão alimentar (TCA). Nos adolescentes, esse índice chega a 10%.

   Um estudo da Universidade Newcastle, no Reino Unido, identificou sinais de desordem alimentar em voluntários de apenas 9 anos de idade, sendo que aos 12, esses sintomas estavam mais intensos . No Brasil, os números também preocupam. “Tem um estudo desenvolvido na cidade de Porto Alegre onde destaca que 38,1% de crianças com peso adequado se consideram “gordas”, entre elas meninas de 11 anos, com maior IMC, menor autoestima e meninas que pensam que seus pais gostariam que fossem mais magras”, ressalta.

   A nutricionista também fala de outro estudo brasileiro, realizado em Belo Horizonte, que apontou a maioria dos estudantes insatisfeitos com o próprio corpo. “Dos alunos entrevistados, 62,6% não se sentiam bem com o próprio corpo, embora mais de 80% do total estivesse dentro do peso normal”.

A pandemia e a alimentação do adolescente

    Diante do cenário atual, onde os jovens passam muito tempo em casa, as mudanças emocionais prevalecem, e isso pode impactar no comportamento alimentar. Acabam comendo excessivamente, surge a compulsão alimentar ou até a imposição de restrição calórica severa. Isso tudo favorece o ganho ou a perda excessiva de peso nos adolescentes, o que pode gerar impactos negativos significativos na saúde a curto e longo prazo.

“O maior tempo de exposição a telas pode levar à obesidade adolescentes através de diversos fatores, como o aumento do consumo alimentar durante a visualização, exposição ao marketing de alimentos e alto consumo de bebidas de alta caloria e baixo teor de nutrientes, o que influencia também na qualidade do sono e possível estímulo ao comportamento sedentário.”, destaca a conselheira do CRN-3.

    Além disso, a má alimentação pode interferir no rendimento escolar. “Diversos estudos mostram que os adolescentes que não consomem café da manhã apresentam menor desempenho escolar. E há ainda uma tendência à perda da rotina dos horários e da qualidade do sono, que também interferem nos mecanismos de controle do apetite e da saciedade.”, finaliza a nutricionista Camila Alves, do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS (CRN-3).

Sintomas dos transtornos alimentares

• Alteração rápida, radical e persistente dos hábitos alimentares. O caso típico é o da menina que, de uma hora para outra, passa a comer apenas salada.

• Hábitos alimentares inadequados para a faixa etária. Aos dois anos, por exemplo, é normal preferir a mamadeira. Aos quatro, não!

• Aceitação de uma variedade muito pequena de alimentos. Fazer cara feia para algumas comidas faz parte da infância, mas uma criança que só aceita comer macarrão, tomate e uva, por exemplo, deve ser acompanhada pelo pediatra.

• Resistência a compartilhar refeições, tanto em casa como na escola ou durante o lazer, com os amigos.

• Déficit no crescimento (peso e/ou altura)

Por que é importante o adolescente ter uma alimentação adequada?

A adolescência é um período de intenso crescimento e desenvolvimento. Deste modo, é de grande importância atentar para a adequação das necessidades calóricas e de micronutrientes ligadas ao padrão de crescimento, uma vez que a nutrição na adolescência repercute de forma definitiva na vida do indivíduo, pois é um período que ele ganha 25% da sua altura e 50% do peso final.

Há também aumento da densidade mineral óssea, alcançando o pico no final dessafase. O planejamento nutricional inadequado pode levar à diminuição da velocidade de crescimento e a redução da massa muscular, por isso, a ajuda de um nutricionista é fundamental! A seguir algumas orientações:

• Ter horários definidos de rotina para se alimentar, realizando de 5 a 6 refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar, e mais 2 ou 3 lanches intercalados).

• Incentivar o consumo de frutas, verduras e legumes, assim como alimentos fontes de cálcio e ferro de boa disponibilidade.

• Não substituir as refeições principais por lanches gordurosos

• Aumentar consumo de água e diminuir o de bebidas açucaradas e refrigerantes.

• Evitar realizar refeições na presença de dispositivos eletrônicos como televisão, computador, celular, tablet.

• Evitar o consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados (refrigerantes, fast food, salgadinhos, refrescos em pó e etc).

• Resgatar o comer em família. A família é o principal exemplo, e a comida que tem dentro de casa definirá boa parte da alimentação do adolescente.

• Incentivar o exercício físico. Não ficar horas em frente à TV ou computador. O exercício físico estimula a produção de hormônio do crescimento (assim como o sono), além de alimentar-se bem, dormir pelo menos de 8 a 10 horas por dia e fazer exercício físico. Tudo isso contribui para o melhor crescimento do adolescente.
 
 
Tradução »