Ataques machistas de senadores fazem ministra Marina Silva se retirar de sessão no Senado

Marina Silva - Foto Geraldo Magela agencia senado

Foto: Geraldo Magela /Agencia Senado

Marcos Rogério (PL-RO) corta o microfone da convidada e manda: “se ponha no seu lugar”, a ministra Marina Silva reage: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa e eu não sou! Eu vou falar!

   Riselda Morais – São Paulo –  Em pleno 2025, quando as mulheres lutam contra o machismo, feminicídios e por igualdade de gênero, o mal exemplo veio de cima, desta vez do Senado Federal. Um comportamento vergonhoso de três senadores, eleitos também por mulheres e por pessoas de origem humilde, que deveriam defender a preservação do meio ambiente, fez com que a ministra Marina Silva, a quem eles haviam convidado a falar, se retirasse da sessão na Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta terça-feira (27). Quem não se dispõe a ouvir e responder com respeito não deve convidar ninguém a falar. No entanto, em meio a um debate sobre um projeto de lei que afrouxa o licenciamento ambiental e sobre a BR-319 que liga Amazonas, Roraima e Rondônia, o presidente da sessão Marcos Rogério (PL-RO) cortou o microfone da convidada, da ministra, que estava sentada ao seu lado e de forma tóxica falou: “Me respeite, ministra, se ponha no seu lugar”.

   A ministra Marina Silva reagiu: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa e eu não sou! Eu vou falar!
Em outro momento, acusada de atravancar obras, Marina falou sobre os impactos ambientais e do desmatamento provocado por mais de 400 km da BR-319, ao mesmo tempo que o senador pelo estado do Amazonas a criticava.

   Durante a sessão o senador Omar Aziz (PSD-AM), repetiu várias vezes que quer passear pela BR-319 que liga Porto Velho a Manaus. Afirmou ainda, não respeitar a ministra Marina Silva que, mesmo com o microfone mais uma vez cortado respondeu: “Eu digo para vossa excelência, com toda a tranquilidade da alma: isso tem uma mistura de técnica e ética. Eu não faço meu trabalho pensando nas próximas eleições. Eu faço meu trabalho com base naquilo que a lei prevê e nas futuras gerações”, afirmou a ministra e exigiu que ele se desculpasse ou ela se retiraria da sessão. O que aconteceu logo depois.

   O senador Plínio Valério (PSDB-AM) permaneceu falando insistentemente de forma tóxica e intimidatória, perguntando se Marina estava com medo que ele a enforcasse. A ministra se retirou da sessão que foi transmitida ao vivo pela TV Senado.

  O senador Marcos Rogério finalizou afirmando que irá convocar a Ministra Marina para a próxima sessão.

“O que não pode é alguém achar que, porque você é mulher preta, vem de trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e dizer que devo ficar no meu lugar. Meu lugar é onde todas as mulheres devem estar”, desabafou a ministra Marina Silva. “Meu lugar é defender o meio ambiente, esse é o meu lugar”, disse a ministra na rede social.

   Em outra postagem a ministra esclareceu: “Me acusam de impedir o desenvolvimento do país ao ser contra a destruição da Lei Geral de Licenciamento Ambiental, conforme proposto no PL 2.159/2021. A lei é um instrumento importante para a proteção dos nossos biomas e para o combate à mudança do clima. Não sou contra atualização de nenhuma lei, nem dessa. Mas precisamos debater com profundidade e qualidade para não usar a necessidade de atualização como desculpa para acabar com regramentos ambientais essenciais para o país”.

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