8 lições aprendidas em um ano de pandemia
Quando o primeiro caso de covid-19 (Sars-CoV-2) foi detectado, há mais de um ano, o vírus surpreendeu cientistas, médicos e pacientes.
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou oficialmente que havia uma pandemia de covid-19 no mundo. Um ano depois, a doença tirou mais de 2,6 milhões de vidas e gerou 117 milhões de casos em todo o mundo, segundo dados até 10 de março.
Durante esse tempo, médicos e cientistas coletaram uma grande quantidade de evidências sobre o novo coronavírus. Por isso, agora sabemos mais sobre como ele é transmitido e como pode ser tratado com mais eficácia.
Veja, a seguir, oito lições importantes que aprendemos:
1. As máscaras faciais são essenciais para conter a covid-19
O uso de máscara facial, sozinho, não impede a disseminação do coronavírus, mas ajuda muito a conter a transmissão, de acordo com vários estudos.
Desde junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza o uso de máscaras de tecido para todo mundo que precisa sair de casa.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, fez a mesma indicação um pouco antes, a partir do mês de abril.
Recentemente, com o avanço de novas variantes do coronavírus, alguns países europeus passaram a exigir o uso de máscaras cirúrgicas ou de padrão equivalente à PFF2 e N95.
Embora as orientações variem de país para país, cientistas e estudos apontam que as máscaras N95, PFF2 ou equivalente oferecem um grau maior de proteção do que as cirúrgicas ou de tecido e devem ser priorizadas em situações de maior risco.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mantém a indicação de máscaras de tecido, limpas e secas, para a população em geral, enquanto as máscaras cirúrgicas e as N95, PFF2 e equivalentes devem ser usadas “pelos profissionais que prestam assistência a pacientes suspeitos ou confirmados de covid-19 nos serviços de saúde”.
“A máscara de pano foi útil, e ainda é útil, mas funciona para proteger os outros de você, diminuindo a emissão de partículas de quem está usando”, disse o engenheiro biomédico Vitor Mori, membro do grupo Observatório Covid-19 BR.
Atualmente, cientistas buscam formas de melhorar o nível de proteção. Em fevereiro,o CDC mostrou que o uso de uma máscara de tecido por cima de uma máscara cirúrgica pode ampliar o nível de proteção. O estudo reforça a conclusão, que vem sendo divulgada por diversos cientistas, de que um bom ajuste da máscara ao rosto é fundamental para aumentar sua eficiência geral.
2. Covid-19 não afeta apenas os idosos
O risco de desenvolver sintomas graves com covid-19 aumenta com a idade, colocando os adultos mais velhos em maior risco. A razão para isso é muito simples: à medida que envelhecemos, nosso sistema imunológico também envelhece, deixando nosso corpo menos capaz de combater infecções.
No entanto, isso não significa que os jovens sejam imunes à covid-19 — mesmo aqueles que não apresentam problemas de saúde subjacentes, como diabetes, hipertensão e obesidade.
Como qualquer outra pessoa, os jovens também podem desenvolver sintomas graves, precisar de hospitalização ou até morrer por causa da doença.
Mesmo assim, o risco de morte por covid-19 entre menores de 50 anos (e especialmente entre menores de 30 anos) é considerado baixo.
A BBC ouviu depoimentos de enfermeiras na Espanha que afirmam que a pneumonia derivada da covid-19 estava se tornando uma complicação regular em pacientes mais jovens.
“Este vírus pode colocar jovens no hospital por semanas, ou mesmo matá-los”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em março de 2020.
Ghebreyesus também alertou que mesmo que os jovens não possam sofrer gravemente com a doença, seu comportamento pode significar “a diferença entre a vida e a morte para outra pessoa”.
3. Covid não é uma ‘gripezinha’
Sintomas de Covid podem ser semelhantes aos da gripe: febre, tosse, fadiga. Algumas pessoas também podem sentir dores na musculatura, dores de cabeça e, possivelmente, diarreia ou vômito.
E como a gripe, o coronavírus pode ser transmitido antes que as pessoas apresentem quaisquer sintomas, ou os pacientes podem até ser assintomáticos.
No entanto, o resultado da covid é muito mais sério para muitas pessoas.
Políticos como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ou o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem ter tentado minimizar a gravidade da covid-19, dizendo que era como uma “gripezinha”, mas as estatísticas em ambos os países contam uma história diferente.
Nos Estados Unidos, a covid tem sido a principal causa de morte nos últimos meses (mais de 520 mil pessoas morreram até agora), enquanto no Brasil o número já passou de 260 mil mortes, superando outras doenças altamente letais, como acidente vascular cerebral, doenças cardíacas e pneumonia, segundo dados oficiais do Brasil.
4. Evidências sugerem que o coronavírus é de origem animal (e não foi produzido em laboratório)
A equipe da OMS que investigou as origens do Sars-CoV-2 em Wuhan, na China, diz que todas as evidências apontam para uma origem “animal” do novo coronavírus.
“Todos os dados que coletamos até agora nos levam a concluir que a origem do coronavírus é animal”, disse o chefe da missão da OMS, Peter Ben Embarek.
De acordo com Embarek, as evidências mostram que o novo coronavírus apareceu pela primeira vez em morcegos: “Mas é improvável que esses animais sejam encontrados em Wuhan. Ainda não foi possível identificar o animal intermediário”, explicou.
Embarek disse que a investigação sobre a origem do coronavírus ainda é um trabalho em andamento, mas acrescentou que a hipótese de que o novo coronavírus tenha escapado de um laboratório é “extremamente improvável”.
5. Cloroquina e hidroxicloroquina não funcionam como tratamento contra covid-19
No início da pandemia, acreditou-se que a cloroquina, remédio tradicionalmente usado para combater a malária, e seu derivado, a hidroxicloroquina, poderiam funcionar como tratamentos contra a covid.
Pesquisadores chineses e um grupo de pesquisa francês sugeriram que as drogas poderiam ser eficazes, mas desde então muitos estudos relataram que essas drogas não trazem benefícios ou podem até causar efeitos prejudiciais.
Em julho do ano passado, a OMS suspendeu os ensaios com hidroxicloroquina após descobrir que não houve redução na mortalidade em pacientes com covid-19. Até hoje não há eficácia comprovada no uso dessas drogas em casos relacionados ao coronavírus.
6. É improvável que você seja infectado por embalagens
No início da pandemia, milhares de pessoas dividiram nas redes sociais a angústia de ter que limpar embalagens e alimentos regularmente.
Mas, de acordo com a OMS, “não há casos confirmados de covid-19 transmitidos por alimentos ou embalagens de alimentos”.
No entanto, a OMS lista uma série de precauções para evitar a contaminação cruzada, como o uso de desinfetante para as mãos antes de entrar nas lojas e a orientação “lavar bem as mãos ao voltar para casa, após manusear embalagens de alimentos e antes de comer”.
Nessa linha, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA produziu um relatório que diz que não há evidências comprovadas de que o alimento ou sua embalagem sejam uma fonte provável de transmissão do coronavírus.
A entrega de alimentos em domicílio não deve ser motivo de preocupação, mas é importante lavar as mãos após receber a comida.
Especialistas também aconselham o uso de sacolas plásticas apenas uma vez.
7. Você pode pegar covid mais de uma vez
Uma pesquisa da agência de saúde pública do governo britânico, Public Health England, descobriu que a maioria das pessoas que contraíram covid-19 (83%) tem imunidade por pelo menos cinco meses.
No entanto, casos de reinfecção, embora raros, estão sendo identificados em vários países. E a maior preocupação para os especialistas em saúde é a reinfecção com novas variantes.
Se um número significativo de pessoas que superaram a covid-19 começar a testar positivo novamente, pode ser devido a uma nova variante. Neste caso, uma cepa que é capaz de evitar os anticorpos gerados pelo corpo de uma pessoa após uma primeira infecção.
Existem muitos milhares de versões diferentes do coronavírus circulando, mas as mais preocupantes no momento são:
- A variante do Brasil (também conhecida como P.1), que já foi encontrada em pelo menos 15 países
- A variante do Reino Unido ou Kent (também conhecida como B.1.1.7), que se espalhou para mais de 50 países e parece estar em mutação novamente
- A variante da África do Sul (B.1.351), encontrada em pelo menos 20 outros países
Não é inesperado que novas variantes tenham sido desenvolvidas, já que todos os vírus sofrem mutação enquanto fazem cópias de si mesmos para se espalhar e prosperar.
Muitas dessas diferenças são irrelevantes. Alguns podem até ser prejudiciais à sobrevivência do vírus. Mas alguns podem torná-lo mais infeccioso ou ameaçador.
Nos três casos acima, as novas variantes mais contagiosas desempenharam um papel importante na produção de altas taxas de infecções e hospitalizações.
8. Até agora, as vacinas ainda devem funcionar contra novas variantes
As vacinas atuais foram elaboradas com base em versões anteriores do coronavírus, mas os cientistas acreditam que ainda devem funcionar, embora talvez não tão bem.
Um estudo recente sugere que a variante brasileira pode estar resistindo a anticorpos em pessoas que deveriam ter alguma imunidade porque tinham contraído e covid e se recuperado de uma versão anterior do coronavírus.
Os primeiros resultados de laboratório, no entanto, sugerem que a vacina da Pfizer pode proteger contra as novas variantes, embora um pouco menos eficaz.
Duas novas vacinas contra o coronavírus que podem ser aprovadas em breve (uma da Novavax e outra da Janssen) parecem oferecer alguma proteção também.
Dados da equipe de vacinas Oxford-AstraZeneca sugerem que ela protege da mesma forma contra a nova variante do Reino Unido. Ele oferece menos proteção contra a variante da África do Sul, embora ainda deva proteger contra casos graves.
Os primeiros resultados da Moderna sugerem que sua vacina é eficaz contra a variante da África do Sul, embora a resposta imunológica possa não ser tão forte ou duradoura.
No Brasil, o Instituto Butantan informou que estudos preliminares realizados com pessoas vacinadas demonstram que a Coronavac é capaz de neutralizar variantes do novo coronavírus. Dados iniciais apontam, segundo o instituto, que a Coronavac é capaz de combater as variantes P.1 (também conhecida como amazônica) e P.2 (do Rio de Janeiro) do novo coronavírus.
Novas variantes podem surgir no futuro, mas mesmo no pior cenário, as vacinas poderiam ser redesenhadas e ajustadas para serem uma combinação melhor. Isso poderia acontecer em questão de semanas ou meses, se necessário, dizem os especialistas.
Podemos um dia acabar tratando o coronavírus como tratamos a gripe, onde uma nova injeção é produzida a cada ano para compensar quaisquer alterações nos vírus da gripe circulantes.